31 de ago. de 2007

PORQUINHO-DA-ÍNDIA

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Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
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Levava ele pra sala
Pra os lugares mais bonitos, mais limpinhos,
Ele não gostava:Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...
- O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.
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Manuel Bandeira
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23 de jul. de 2007

Meninos carvoeiros

Os Carvoeiros de Nigel Noble
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Os meninos carvoeiros
Passam a caminho da cidade.
— Eh, carvoero!
E vão tocando os animais com um relho enorme.
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Os burros são magrinhos e velhos.
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem é toda remendada.
Os carvões caem.
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.(Pela boca da noite vem uma velhinha que os recolhe,
dobrando-se com um gemido.)
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— Eh, carvoero!
Só mesmo estas crianças raquíticas
Vão bem com estes burrinhos descadeirados.
A madrugada ingênua parece feita para eles . . .
Pequenina, ingênua miséria!
Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!
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—Eh, carvoero!
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Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,
Encarapitados nas alimárias,
Apostando corrida,
Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados.
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Manuel bandeira
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13 de mai. de 2007

Minha mãe

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Da pátria formosa distante e saudoso,

Chorando e gemendo meus cantos de dor,
Eu guardo no peito a imagem querida
Do mais verdadeiro, do mais santo amor:
— Minha Mãe! —
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Nas horas caladas das noites d’estio
Sentado sozinho co’a face na mão,
Seu choro e soluço por quem me chamava
— “Oh filho querido do meu coração!” —
— Minha Mãe! —
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No berço, pendente dos ramos floridos
Em que eu pequenino feliz dormitava:
Quem é que esse berço com todo o cuidado
Cantando cantigas alegre embalava?
— Minha Mãe! —
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De noite, alta noite, quando eu já dormia
Sonhando esses sonhos dos anjos dos céus,
Quem é que meus lábios dormentes roçava,
Qual anjo da guarda, qual sopro de Deus?
— Minha Mãe! —
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Feliz o bom filho que pode contente
Na casa paterna de noite e de dia
Sentir as carícias do anjo de amores,
Da estrela brilhante que a vida nos guia!
— Uma Mãe! —
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Por isso eu agora na terra do exílio,
Sentado sozinho co’a face na mão,
Suspiro e soluço por quem me chamava:
— “Oh filho querido do meu coração!” —
— Minha Mãe! —
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Casimiro de Abreu
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